O arcadismo é um movimento literário que teve seu auge a partir do século XVIII, o seu nome é uma referência a “Arcádia”, região de campos que ficava localizada no Peloponeso, na Grécia antiga. Diz-se que esta região é o melhor lugar para se encontrar inspiração para escrever. O arcadismo é muito ligado à natureza, exalta as belezas naturais e tudo que seja relacionado com elas, e por conta disso, muitos dos escritores adotavam pseudônimos de pastores, por conta da referência à arcádia e por ser uma profissão que mantem muito contato com o natural. O arcadismo também é chamado de setecentismo e neoclassicismo, e constrói, de forma não tão aparente, uma relação com o “mito do bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau.
A escola arcadista surge como um movimento conflitante com o barroco, com uma linguagem mais simples, contrapondo o exagero barroco. Os temas também eram de maior simplicidade, como morte, amor, casamento e solidão. Não tinham os conflitos internos e o embate entre tentação e fé. O neoclassicismo acreditava na arte como uma réplica da natureza, e para os autores deste movimento a melhor maneira de praticar esta arte seria através da tradição clássica greco-romana. É por conta desta crença que é possível perceber a presença do paganismo e de frases em latim.
Características
Os textos arcadistas são repletos de elementos que o configuram nesta escola, como o movimento é uma oposição à literatura barroca, as características deste movimento refletem bastante à natureza, campo e simplicidade. São características do arcadismo:
- Linguagem simples: um dos principais embates contra o barroco começa logo na linguagem, o arcadismo é escrito de forma simples.
- Objetividade: Além de simples o arcadista passava a sua mensagem de modo direto.
- Frases em latim: com bastante influência da cultura clássica greco-romana, os poetas usavam muitas expressões em latim.
- Bucolismo: o campo era exaltado, por estar mais próximo à natureza.
- Valorização do natural: o poeta arcadista valorizava a natureza e tudo que se relacionava à ela.
- Fugere Urbem: A fuga da cidade era pontuada pelos arcadistas pois o ambiente urbano corrompe o homem.
- Locus Amoenus: um local ameno, onde o arcadista pode fugir da cidade.
- Carpem Diem: Sabendo que a vida é breve, o convite à aproveitar do momento.
- Inutilia Truncat: o corte do que é inútil, talvez a característica mais oposta ao barroco. É a exclusão da exuberância e rebuscamentos.
- Aurea Mediocritas: a mediocridade do dinheiro, a verdadeira riqueza está no aproveito da vida e contato com a natureza.
Era muito comum também os autores arcadistas usarem pseudônimos de pastores, isso se dava pois a grande maioria dos poetas moravam na cidade, já que era lá que eles tinham os contatos econômicos. Vale salientar que esta busca pelo natural e a sua idealização eram apenas ideológicos, um estado de espírito dos poetas e uma posição políticas deles.
Arcadismo no Brasil
O marco do arcadismo no Brasil foi a inauguração da “Arcádia Ultramarina”, em Vila Rica, além da publicação de Cláudio Manuel da Costa. Os ideais do arcadismo e do iluminismo se unirão ao nativismo. A Inconfidência Mineira foi uma consequência desse nativismo, e sua politização foi movimentada por autores árcades brasileiros. Minas era um dos principais centros econômicos, e Vila Rica era os principal do estado. No arcadismo brasileiro, além das características árcades mais gerais, era possível perceber algumas particularidades. As paisagens tropicais, natureza bem marcante do Brasil, a história colonial valorizada, o começo de um pensamento nacionalista e busca por independência são pontos que caracterizam o arcadismo no Brasil.
EXEMPLO
Trecho de Caramuru
Santa Rita Durão
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
– Ah! Diogo cruel! – disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
EXEMPLO
Trecho de O Uruguai
José Basílio da Gama
“Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o prento,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspiro nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte.”